quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

POISCIONÁRIO - Ou o poder do Pois

POIS É – Ou o poder do Pois

Quando se vê, já são seis horas; quando se vê, é sexta-feira;
quando se vê, acabou o ano. (M. Quintana)


Uma das palavras / expressões mais abrangentes que existem na expressão oral e escrita portuguesa (lusa) é a utilização do “POIS”. É fabuloso o seu uso, os seus múltiplos significados e democraticidade no seu uso. Não há quase nada a que não se possa responder com um “Pois”.
O Pois é usado em todos os estratos sociais e camadas etárias, não escolhe género ou idade. Ele é um poço inesgotável de respostas, não respostas, comportamentos e caracterizador de algumas personagens (profissionais) que convivem directamente (ou não) conosco, no nosso dia-a-dia.
Começo por apresentá-los como vem na gramática portuguesa (http://pt.wiktionary.org/wiki/pois) Conjunção
pois conjunção coordenativa conclusiva/explicativa
1. logo, pelo que, portanto, por consequência, por conseguinte:
o Encontraste outro amor, pois segue o teu coração.
2. porquanto, porque:
o Calas a raiva pois tens medo do poder.

Mas o seu uso extrapola, em muito, a definição acima apresentada.
Alguém que use e domine o “Pois” não ficará sem resposta a dar a nada. O seu correcto domínio, alicerçado por uma linguagem não verbal adequada, será de grande utilidade. Ora vejamos.
Podemos usar “Pois” isoladamente em respostas afirmativas, negativas, inconclusivas, relaxadas ou vazias.
1) Está muito calor.
Pois (afirmativa).

2) Não devias ter feito isso (fez cagada).
Pois (não devia mesmo).

3) Ao ouvir alguém que fala e fala e fala…e que continua a falar.
Pois (pontuamos as pausas do orador com um pois. Podemos nem estar a prestar atenção… mas não passamos por mal educados).

4) Quando alguém nos pede para comentar algo que acabámos de ouvir.
Pois (não sabemos bem o que dizer ou o que opinar e sai um pois,.. um pois surdo… é politicamente correcto o seu uso e de extrema habilidade dialéctica).

5) Pois (relaxado)» há quem o use sem imaginação/ preocupação.

Mas este vocábulo pode ainda aparecer conjugado com outros (palavras compostas).

Pois claro » que pode significar concordância. No entanto, os mais hábeis fazem do seu uso algo parecido com um ioga mental. Usam-no para descasarem a mente. Parecem atentos… mas o que estão é completamente desligados.

Pois sim » o mesmo uso acima referido.

Pois não » quanto alguém nos interpela, quer ao bater à porta, quer na rua … educadamente podemos responder assim.

Pois é » quando queremos confirmar algo. Podemos ir do simples “pois é”, quando confirmamos o óbvio, sem emoção, ao “pois éééééé”… quase como o balir de um cordeiro…expressamos sentimentos de surpresa, admiração, de concordância.

Pois, pois» quando concordamos, sem reservas, com algo. O curioso é que esta expressão é utilizada para caracterizar os portugueses (de uma maneira algo brincalhona) em terras de Vera Cruz.

Pois talvez» que pode não querer dizer algo, pode querer ou não saber de todo o que quer dizer. Comportamento típico de alguns.

Pois então » mais uma vez concorda com o facto apresentado ou pode pretender reforçar algo que já disse. Muitas vezes, este reforço, demonstra o quanto o orador não está convencido do que pretende demonstrar.
Mas ainda se arranjava mais "Pois"

A utilização do “pois” tem ainda outros caminhos.

Depois » que tanto caracteriza a tomada de decisão de políticos, gestores, patrões, estudantes… como se vê, de todos, ou quase todos, nós.
Temos ainda Poiso, Poisada (ou pousada), Poisar. Todas elas a marcar algum imobilismo, inoperância ou descanso intelectual. Não que ele não seja necessário… mas caracteriza e ajuda a definir alguma inoperância.
Mas o “ Pois” também de internacionalizou.
Interessante será ver como a nossa velha aliança introduziu o “Pois” nos seus vocábulos.
Poison » o que ao princípio poderia ser um simples Pois Filho (pois son) mas, devido aos jogos de poder dos corredores dos palácios passou a significar veneno. Logo os franceses, não querendo ficar para trás, resolveram usá-la (e, eventualmente, usá-lo). Este idioma também o utiliza para significar peixe (Poisson)

Pois também é usado em Italiano. Comeram-lhe o “s”. Ficaram com Poi. Não conseguiram dar-lhe, penso eu, o uso imaginativo do Pois luso. Significa apenas “pois”. Mas já no mundo da moda temos a colecção Pois, há até uma Miss Pois (ou várias) , uma linha Pois (http://www.pois.it/), um glamour Pois. Sem dúvida, uma rotura no universo linguístico Pois.

Já os espanhóis, talvez por não gramarem nada do que vem daqui, para além dos Bancos e de muito do nosso tecido empresarial, que vão comprando, não o usam como nós. Dizem um Pues sem força. Talvez possa ser por terem alguma dificuldade em “sonorizar ou ditongar” duas vogais seguidas sem terem de recorrer à tecnologia dos acentos.

Deixo-vos por fim com a caracterização, um pouco limitada (não minha, mas dos intérpretes), de alguns tipos de HOMENS POIS. Infelizmente “eles andem por aí”.

Encontramo-lo nas bancadas do nosso Parlamento….aqueles que dizem pois (nas suas mais variadas vertentes, mas sobretudo um pois relaxado ) a tudo que é emanado pelas suas cúpulas, dos quais nem sequer sabemos o nome, porque muitas vezes nem sequer aprecem regularmente no parlamento. Apenas os serviços da Segurança Social os conhecem pelo registos dos chorudos salários e regalias que usufruem.

Há aqueles que partilham as assessorias das empresas / organizações. Usam um Pois agradável… concordam com tudo, mesmo não sabendo (ou não querendo saber) do que se está a passar.

Já o Chico Buarque, poeta incontornável da língua portuguesa, prosou (e musicou) sobre o Pois é (http://letras.terra.com.br/chico-buarque/86033/).

Se o Tempo não pára, não pare você também.
João Paulo Marques

PS: A ideia deste pequeno texto nasceu da observação quotidiana do POIS e de querer também explica-lo, a quem não o domina nomeadamente, à minha querida amiga Denize. Assim, talvez ela e muitos outros o entendam melhor.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

Perguntas e respostas num debate

PERGUNTAS E RESPOSTAS NUM DEBATE

Se tenho que falar por 2h, preparo-me 10 m; se tenho que
falar 10m, preparo-me 2h (Winston Churchill).

Reveladora esta expressão de Churchill. E ele devia ser, sem dúvida, um orador muitíssimo bem preparado.
Se sabemos que temos que falar em público, prepara-nos quanto antes. Como quase tudo na vida, a experiência e a consequente repetição do exercício só faz de nós melhores executantes.
Tenho por hábito ler em voz alta textos em idiomas estrangeiros. Dou por mim de vez em quando a gaguejar em determinadas palavras e isso é mais notório quando gravo a minha leitura. Reparo que me atropelo de vez em quando. Por quê? Porque qualquer dos idiomas não são o “meu português”. Como eu posso melhorar a minha fluência? Praticando, lendo e lendo em voz alta.
O mesmo deve suceder a quem se prepara para uma apresentação. Treinar! Estar também preparado para a fase de perguntas e respostas. Estar muito bem preparado para esta fase. E esta fase pode preparar-se. Podemos antecipar as perguntas. Há quem diga que cerca de 70% delas são previsíveis. O que fazer com o remanescente. Prepararmo-nos. Esta parece ser a resposta para quase tudo. Prepararmo-nos!
Anteciparmos as perguntas que faríamos, como também as que gostaríamos que nos fizessem e as que não gostaríamos que nos fizessem. A estas juntamos aqueles que pensamos que não nos farão. Mesmo assim, alguma pergunta (s) inesperada(s) será feita. Garantido.
É conveniente no início da prelecção esclarecer quando é a fase das perguntas. Em alguns casos, mesmo que esta fase seja remetida para o final, convém esclarecer (na altura) alguma dúvida que possa comprometer o correcto desenrolar da sessão.
O público agradece sempre a oportunidade de pode formular perguntas. De poder esclarecer as suas dúvidas que não foram clarificadas na apresentação ou sobre as quais tenha reservas ou não concorde mesmo com o ponto de vista apresentado.

Seguem alguns conselhos para melhorar esta parte tão sensível das apresentações:

1. Não se precipite a responder. Tenha a certeza que entende o que está a ser questionado. Pense na resposta…e responda.

2. Pode responder imediatamente às perguntas ou juntar 3 ou 4 e articular a resposta. Assim, eventualmente ganhará tempo e poderá dar respostas mais abrangentes.

3. Esteja atendo ao modo como foi formalizada a pergunta. Perceba o seu conteúdo verbal e não verbal.

4. Ao responder dirija-se sempre à plateia e não apenas ao interlocutor.

5. Responda sempre de forma directa, clara e concisa.

6. Marque as distâncias. Assim, poderá defender-se melhor de perguntas mal intencionadas. Poderá, nestes casos, junto do interlocutor (e da plateia) reformular a questão… mudando os seus termos ou o seu âmbito.

7. Tente, dentro das possibilidades, ter material de apoio que o ajude a suportar as suas respostas.

8. Face a uma pergunta caprichosa, responda-a defendendo-se.

9. As questões formuladas negativamente responda de forma positiva.

10. Nem todas as perguntas que lhe são feitas merecem contestação. Todavia, seja cortês quando não as responder.

11. Seja honesto com a audiência. Não tem que saber responder a todas as questões que lhe são feitas. Caso isso suceda pode solicitar ajuda à plateia ou remeter a resposta para mais tarde. Sobretudo, não invente.

12. Quando perceber que está a esgotar o tempo que tem para as perguntas e respostas, avise a plateia. Pode disponibilizar-se para responder a algumas dúvidas posteriormente, quer na sala, quer por email ou outro método.

Aproveite este fase das palestras, independentemente da posição que ocupa. Ela pode ser bem desafiante. Mas nunca deixe de ter uma atitude séria e responsável com ela.

Se o Tempo não pára, não pare você também.
João Paulo Marques

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ensino

Algumas contradições nestes dias.

Aqui vão:
» A Católiva viu o seu curso de Economia reconhecido como um dos 50 melhores da Europa
» Esta universidade e a Nova de Lisboa vão lançar um MBA para concorrer com os melhores da Europa. Não tenho dúvidas q o vão conseguir.
» Hoje, 3.12., greve geral dos professores.

Ministério e professores não se entendem...e nós sabemos como anda (mal) o ensino.

Apanhei recentemente uma frase que dizia algo assim:
Se acham que a educação é cara... pensem no custo da "não educação". Infinitamente mais cara (acrescentei eu agora).

Quando penso que os garotos de 10 anos hoje em dia pouca possibilidade têm de andar na rua a correr, de esfolar os joelhos, de jogar à bola... e de muitas mais travessuras que eu (e todos) fazíamos...fico meio assustado como será estas crianças daqui a 20 anos a terem de lidar com os problemas da vida que não aparecem nos livros

Cães & Gatos

CÃES E GATOS (MINISTRA E PROFESSORES)

Ninguém consegue ler o rótulo quando este está dentro da garrafa.
É preciso que ele esteja fora para se ler (provérbio inglês).

Sempre vivi com este inegável dado: cães e gatos não se dão. Pronto! Não misturem cães e gatos… vai dar confusão…. vai dar feridos… vai dar sangue. E há até quem tenha medo deles.
Mas parece que esta minha afirmação é rapidamente contestada pelo seguinte “plenário” (em fotografia). Parece que os três estão num diálogo, sem qualquer tipo de conflito, ouvindo-se uns aos outros. Reina a sintonia e o respeito de opiniões. Algo parecido com as cegadas (quero dizer cagadas) que quase todos os dias nos aparecem pelos media.




Plenário da familia MB

Parece que os tempos que correm na nossa sociedade são tempos de “cães e gatos”. Temo-los no relacionamento dos professores com ministério, no nosso relacionamento inter-pares no seio da empresa, com os nossos superiores, entre adeptos de clubes diferentes de futebol, pasme-se, entre adeptos do mesmo clube e, infelizmente, dentro das nossas casas, para referir apenas alguns lugares. . Vide os dados estatísticos que têm vindo a ser publicados e que revelam que a violência doméstica e sobre as crianças tem vindo a aumentar. Será que o mundo foi tomado de assalto por cães e gatos?

Mas os conflitos nas organizações (e não só) podem ser benéficos. São eles que trazem sal, ou pelo menos algum dele, às nossas vidas. As diferenças entre os indivíduos existem. Não as podemos evitar…. elas estão lá. Felizmente!
Sabemos que os tempos são difíceis. Há uma enorme competitividade entre empresas, dentro das empresas, dentro e entre os vários departamentos.

Infelizmente, é que estes conflitos nem sempre são visíveis ou percebidos. Há algumas discussões à superfície … e o trabalho vai emperrando, vai sendo adiado,…
Muitas vezes os membros em conflito não entendem que não estão presentes apenas as duas partes, os dois, mas que há uma terceira parte; a Organização. Por isso, a defesa da nossa posição não deve ser vista como:” se eu perco, tu ganhas”. Não devemos incorporar o problema (real ou latente) como se fosse um problema apenas nosso. A parte mais interessada e que importa, em regra a defender, é a Organização.
É importante “ganharmos” um distanciamento do conflito e passar a observá-lo de fora. Assim, estamos no caminho correcto de o resolver.

Sabemos também que dificilmente alguém consegue fazer sobressair uma Organização pelo seu esforço e competência.
O caminho para a resolução dos problemas / conflitos passa por algumas regras:
• Evite-os » A primeira regra é fazer os possíveis para não os criar.
• Respeitar as opiniões dos outros » Aprenda a ouvir. Nem sempre estamos certos. Nem sempre o nosso ponto de vista é o mais ajustado ou apropriado.
• Vivemos em sociedade » Aprendemos sempre com os outros, Mais que não seja, aprendemos a não cometer os erros que outros já cometeram por nós.
• Trabalho é necessário, como conhaque também o é » As suas vitórias profissionais devem ser acompanhadas e partilhadas pelas suas vitórias sociais. Ninguém vive só de trabalho.
• Não se desgaste » Ele não concorda comigo; eu não concordo com ele. E daí?
• Crie o seu espaço » Não leve a insatisfação do trabalho para fora do escritório. Não leve também os problemas de casa para o escritório. Cada um deve ser resolvido no seu espaço próprio, isto é, onde ele acontece.
• Controle-se » Discussões, mesmo que apaixonadas , não resolvem os conflitos. Não lhe dão a razão.

sábado, 29 de novembro de 2008

A pior vontade de viver

A pior vontade de viver (De Martha Medeiros / Clarice Lispector)

Todos são tão comprensívos, aceitam tão bem as suas escolhas, torce por tudo o que você faz, não é mesmo? Desde que você faça o que está no script. Que siga o que foi determinado no roteiro, aquele que foi escrito sabe-se lá por quem e homologado no instante em que você nasceu. Mas e quem não quiser seguir esse script? Em dezembro próximo, serão completados 30 anos da morte da escritora Clarice Lispector, que entendia de subversões emocionais.

Fui convidada a participar de um evento que a homenageia, em Porto Alegre, e em função disso andei relendo algumas de suas obras, e encontrei no conto “Amor”, do livro “Laços de família”, uma de minhas frases prediletas. Assim ela descreve o sentimento da personagem Ana: “Seu coração enchera-se com a pior vontade de viver.” Ela é complexa, angustiante, subjetiva e intensa. Ela, “a pior vontade de viver”. A que não está disposta a negociar com a vontade dos outros.

No entanto, esta que foi chamada de a “pior” vontade pode ser também uma vontade genuína e inocente. É a vontade da criança que ainda levamos dentro, entranhada.

É o desejo de açúcar, de traquinagem, de fazer algo escondido, de quebrar algumas regras, de imitar os adultos. A “pior” vontade é curiosa, quer observar pelo buraco da fechadura e depois, mais ousadamente, abrir a porta e entrar no quarto proibido. A “pior” vontade é a de não se enraizar, não assinar contrato de exclusividade, não firmar compromisso, não se render às vontades fixas, apenas às vontades momentâneas, porque as fixas correm o risco de deixar de serem vontade para se transformarem em vaidade - como se sabe, há sempre aqueles que se envaidecem da própria persistência.

A “pior” vontade não quer ganhar medalha de honra ao mérito, não quer posar para fotografias, não quer completar bodas de ouro nem ser jubilada. A “pior” vontade não faz a menor questão de ser percebida, ela quer ser realizada. É quando você sabe que não deveria, mas vai. Sabe que não será fácil, mas enfrenta.

Sabe que tomarão como agressão, mas arrisca. Aqui, cabe lembrar: apenas se sentem agredidos aqueles que te invejam.

A vontade oficial, a vontade santinha, a que não causa incômodo, é a outra, a aprovada pela sociedade, a que não leva em conta o que vai no seu íntimo, e sim a opinião pública. É a vontade que todos nós, de certa forma, temos de mostrar para os outros que somos felizes, sem saber que para conseguir isso é preciso, antes, ter a”pior” vontade, aquela que faz você descobrir que ser feliz é ter consciência do efêmero, é saber-se capaz de agarrar o instante, é lidar bem com o que não é definitivo - ou seja, tudo.

É com esta “pior” vontade de viver que você atrai os outros, que seu magnetismo cresce, que seu rosto rejuvenesce e que você fica mais interessante. É uma pena que nem todos tenham a sorte de deixar vir à tona esta que Clarice Lispector chamou de “a pior vontade de viver”, e que, secretamente, é a melhor.

Martha Medeiros -


Apanhei este texto no Globo de domingo a regressar do Rio de Janeiro. Ainda o guardo