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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

UMA NOVA GRAMÁTICA SOCIAL


O PERIGO DE UMA NOVA “GRAMÁTICA SOCIAL”

Atraímos aquilo que somos; não aquilo que queremos!

Começo por dizer que a expressão Gramática Social não é minha. Foi retirada de um texto que apanhei da Rosa Montero, colunista do “!El País!”. Considero esta expressão bastante feliz. Eu e, com toda a certeza, muitos outros.

O que ela pretende dizer? Algo como os comportamentos sociais que vamos tendo, que vamos observando, com os quais vamos convivendo.

Sem dúvida parece que estamos passando pela implementação de um novo acordo (de uma nova gramática social). Acordo que, na minha opinião, me parece ser bastante prejudicial.
Ora vejamos alguns exemplos desta nova gramática. Infelizmente já usada e abusada por alguns (muitos).

- Há alguns anos atrás trabalhava num edifício de vários pisos. Uma das máquinas de café ficava entre o quarto e quinto piso. Era a que eu costumava usar. Um dos utilizadores dessa máquina era alguém que nada falava. Poucas vezes ouvi dele algo diferente que um silêncio longo. Sempre que nos encontrávamos, quer no elevador, quer no café, dizia ou dizíamos um bom dia ou boa tarde. Estranhávamos que nada saia da boca dele. Nem da boca, nem do olhar. Passou a ser um entretimento encontrarmos o tal sujeito. Estarmos nós perante ele parecia-lhe ser indiferente. Após repetidas insistências lá começámos, de vez em quando, a ouvir uns sussurros. Nunca percebi a razão por tal comportamento…

- Tenho reparado, das poucas vezes que ando de transportes públicos, que o velho hábito de dar o lugar aos mais velhos está a deixar de ser prática. Vemos nos transportes jovens cansados, que se despojam nos lugares e, muitas vezes, colocam as patas (pretendo mesmo qualificá-los) no assento em frente.

- Outro exemplo são as filas dos supermercados, dos bancos, as entradas (ou saídas) dos estabelecimentos. Reparo que o hábito que se tinha de dar “passagem” aos mais velhos começa a ficar fora de moda.

- Quero também apontar que em alguns serviços o tradicional cumprimento ajustado à hora do dia começa a ficar em desuso. Será que nessas empresas o manual de boas práticas não o refere? Que as acções de formação não fazem? Para além destes maus modos…acompanham-se, de vez em quando, de má cara.

- Não me posso esquecer das famosas beatas. Cada vez é mais comum verificar que à porta dos escritórios, cafés, restaurantes … um cemitério de beatas. Não falando também daquelas que são despejadas pelo vidrinho do carro.

Mais exemplos podia referir. Basta apenas ficar atento e olhar para o que nos rodeia.

Mas há algo que pode ser feito. Nos dias de hoje fala-se muito sobre o desajustamento do programa de ensino. Acredito que ele esteja desajustado. No entanto, devia consagrar-se nos programas educativos algo que transmitisse valores sociais e cívicos a quem está a dar os primeiros passos na sociedade. É sabido que as gerações das pessoas que têm agora 30, 40 ou mais anos foram educadas com uma forte presença da família. O que hoje em dia é quase impossível. Por isso, a escola, as actividades extra escolares podem ter um papel importantíssimo na transmissão dos valores da antiga Gramática Social.

Há uns anos atrás vivi uma experiência (educativa) com crianças. Ajudava nos treinos de uma modalidade desportiva. Infelizmente nem sempre pude estar presente. No entanto, acredito que a minha passagem por lá ajudou a incutir alguns valores. Imodéstia à parte, penso que passei valores como: pontualidade, respeito, organização, espírito de equipa. Ao mesmo tempo pretendia que desenvolvessem o seu processo de tomada de decisão e capacidade de comunicação. Tinham, sempre que era oportuno, de escolher o exercício que pretendiam efectuar e explicá-lo aos colegas. O que se ganhava daqui? Poder de decisão e capacidade de comunicação.

Não quero deixar de referir que cada vez mais noto uma ausência nos mais jovens (e menos jovens também) dos valores com os quais cresci. Serão os tempos modernos os responsáveis de tudo isto? O não ter tempo para nada? A ausência de espaços verdes? O viver agastado da família? O não ter o hábito e o à vontade de andar solto na rua? E como eu andava solto …

Lembro-me lá pelos anos 80 de ter ouvido uma notícia da Islândia que dizia algo como: todas as quartas-feiras não há emissão de televisão. Ainda não havia internet, tv por cabo ou satélite. Com esta medida (com toda a certeza, uma entre várias) o estado islandês promovia a Gramática Social.

Curiosamente este ano apanhei um artigo, antes da falência económica do estado islandês, que considerava o seu povo o mais feliz do mundo. Uma dos pilares deste sucesso passa pela aposta efectuada na educação e no intercâmbio bilateral de estudantes e “cientistas”. Desde o início do século passado que os islandeses não sabem o que é iliteracia. Algo semelhante ao que temos aqui, não é? Igualmente têm apostado no intercâmbio bilateral de massa cinzenta, quer sejam de cientistas ou intelectuais.

Talvez não concordem comigo…não tenho dúvidas que concordam com o Calvin.



João Paulo Marques
O tempo não pára, não pare você também.
http://www.linkedin.com/in/joaopmarques