Os “meus” milagres de Santiago
Sou pouco católico, como muitos sabem. A minha mãe era muito
católica, como muitos outros sabem.
Em 2001 mudei-me para Santiago de Compostela. Antes da
mudança, que pensava eu vir a ser duradoura, apenas tinha ido lá arrendar um
apartamento. Rapidamente habituei-me à cidade. A vista de minha casa quase
chegava a Portugal; matava assim as saudades de Lisboa.
Todos os dias cruza-me pela Catedral. É inegável o peso que
este edifício tem na cidade. Mais, o café que escolhi para me receber por lá, o
Literários, é paredes meias com a
Catedral. Lá sentado, a bebericar o café ou a beber uma cerveja, sentia-me o
guardião a Catedral… Todos que queriam circundar o edifício, passavam por lá
Os dias corriam; o objectivo que me levou a Santiago não
arrancava e eu que cada vez mais gostava
da cidade. Andava muito a pé por lá. Lembro-me hoje dos comes, dos bebes, do
que se passava, de algumas manifestações, dos cafés, de algumas pessoas com as
quais perdi o contacto…
Lá para Novembro disseram-me que o que me tinha levado a
Santiago já não ia acontecer. Disse várias asneiras em português e em castelhano
e voltei para casa.
O que eu pensava que tinha sido um azar tremendo, veio a
revelar-se uma premonição..chamo de Santiago.
2002 e 2003 vieram a revelar-se anos em que a minha presença
em Lisboa se tornaria indispensável. Felizmente andei por cá.
2004 veio a revelar-se mais uma consequência da, digo agora, boa sorte do final de 2001.
Mudei-me outra vez para o estrangeiro. Voltei em Maio de 2005. Voltei diferente…melhor.
Após 2001 voltei apenas duas vezes a Santiago. Mas quero
voltar lá.
Mas Santiago voltou. Desta vez só para mim. Em Julho de
2013.
No meio de arrumações em casa dos meus pais…separando coisas
para doar, coisas para guardar, coisas que contam a minha história, a história
da casa e deles, a nossa história, diz-me a D. Rosa, a senhora que anda cá por
casa faz muito tempo…não com o tempo de me chamar menino…
Meio aflita porque pensava que eu já tinha limpo um Santiago
que anda pela sala, preso à parede.
Conta-me ela que está lá um papel deixado pela minha mãe. Eu
desconhecia…pego na estatueta, levanto-a e vejo um papel dobrado que se
encontra por baixo. Abro-o e vejo o meu nome, já escrito com uma caligrafia
muito tremida….eventualmente das últimas coisas que ela escreveu.
Quase 10 anos após o falecimento da minha mãe recebo mais um
presente dela…