Digo:
"Lisboa"
Quando
atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a
que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e
ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo
luzir de azul e rio
Em seu corpo
amontoado de colinas -
Vejo-a
melhor porque a digo
Tudo se
mostra melhor porque digo
Tudo mostra
melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com
seu nome de ser e de não-ser
Com seus
meandros de espanto insónia e lata
E seu
secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu
conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o
largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa
oscilando como uma grande barca
Lisboa
cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome
da cidade
- Digo para
ver