sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Coisas que a mãe ou os seus filhos não devem sequer imaginar - Assoar o nariz no banho

Coisas que a mãe ou os seus filhos não devem sequer imaginar - Assoar o nariz no banho

Acorda-se com o nariz completamente entupido. Já o dia anterior foi um calvário. Porque eu não pensei nisto antes?

Levanta-se, dirija-se para a casa de banho, mesmo que vá a tropeçar. Ligue o duche e o aquecimento. Faça da casa de banho uma sauna.

Logo, logo o calor e o vapor começam a entranhar-se em si...no seu nariz. Mas ainda não é a altura.

Enxagúe-se, coloque o shampoo, passe o sabonete. Esfregue debaixo das axilas...o seu nariz quase quer respirar, mas ainda não consegue.

Faça agora o que a sua mãe sempre proibiu e que os seus filhos não sonham que você faz.
São apenas três etapas
1) coloque o indicador (há quem use o polegar) na sua narina do mesmo lado
2) encha os pulmões
3) comprima os adnominais
4) solte um grito interior e "liberte" a sua narina esquerda
5) repita a operação, na outra.

O seu dia vai ser melhor, mais respirável.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Não basta abrir a janela - Alberto Caeiro

Não basta abrir a janela


Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

Entre o que vejo de um campo e o que vejo de outro campo
Passa um momento uma figura de homem.
Os seus passos vão com «ele» na mesma realidade,
Mas eu reparo para ele e para eles, e são duas cousas:
O «homem» vai andando com as suas ideias, falso e estrangeiro,
E os passos vão com o sistema antigo que faz pernas andar,
Olho-o de longe sem opinião nenhuma.
Que perfeito que é nele o que ele é – o seu corpo,
A sua verdadeira realidade que não tem desejos nem esperanças,
Mas músculos e a maneira certa e impessoal de os usar.

Alberto Caeiro

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Agora já chove a 15 de Agosto

Agora já chove a 15 de Agosto (histórias de família)

Lembro-me de algumas conversas de "minino" entre a família. Uma aposta que se renovava todos os anos. Se chover no dia 15 de Agosto, algum dos mais velhos pagaria o almoço. Nunca aconteceu, nunca chovia.

Os tempos eram outros, o tempo era outro. Nesses tempos as estações sucediam-se normalmente: Verão, Outono, Inverno, Primavera e assim sucessivamente. E esse almoço nunca era ganho.

Algumas "coisas" ou muitas paravam por Lisboa, mas animavam noutros lados. As romarias, as festas de aldeia, as filas na ponte e nas estradas nacionais.

Tudo era mais ou menos previsível, até a confiança que íamos tendo nos outros.
Os tempos de hoje parecem já não ser assim. A imprevisibilidade global (se existe este conceito; o uso do global pretende facilitar o entendimento) é uma constante. Com tudo de bom e menos bom que ela trás.

O que mais mudou, e não no sentido correcto, é a desconfiança que vamos tendo por aqueles que não nos deviam causar qualquer tipo de suspeita. Falo de políticos, governantes, figuras públicas e mais uns poucos que se passeiam e pavoneiam.

Hoje choveu...não se auguram boas notícias..

Machado de Assis - Bons Amigos

BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

Machado de Assis

terça-feira, 14 de agosto de 2012

31 + 1 Dicas Comercais e de Marketing para potenciar o seu negócio


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Eu sei, não te conheço mas existes. (Joaquim Pessoa)


Eu sei, não te conheço mas existes


Eu sei, não te conheço mas existes.
por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.

Não me perguntes como mas ainda me lembro
quando no outono cresceram no teu peito
duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
ao é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares
Em todas as palavras do meu canto.

Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre á tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Joaquiim Pessoa - Hoje preciso mesmo de ti

Joaquim Pessoa *

Por mais que os meus sentidos procurem um sentido,

o dia de hoje é um grande etcetera.

Veio-me à lembrança uma fotografia que me tiraram
em miúdo com várias pombas poisadas sobre os meus
braços. Eu adorava essa fotografia, que se perdeu, que
voou no tempo como as pombas.
E a verdade é que me sinto apenas um menino de dez
anos com os braços vazios, a quem ninguém quer tirar
uma fotografia.

Hoje preciso mesmo de ti.