quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Os "meus" milagres de Santiago


Os “meus” milagres de Santiago

Sou pouco católico, como muitos sabem. A minha mãe era muito católica, como muitos outros sabem.
Em 2001 mudei-me para Santiago de Compostela. Antes da mudança, que pensava eu vir a ser duradoura, apenas tinha ido lá arrendar um apartamento. Rapidamente habituei-me à cidade. A vista de minha casa quase chegava a Portugal; matava assim as saudades de Lisboa.

Todos os dias cruza-me pela Catedral. É inegável o peso que este edifício tem na cidade. Mais, o café que escolhi para me receber por lá, o Literários,  é paredes meias com a Catedral. Lá sentado, a bebericar o café ou a beber uma cerveja, sentia-me o guardião a Catedral… Todos que queriam circundar o edifício, passavam por lá

Os dias corriam; o objectivo que me levou a Santiago não arrancava e eu que cada vez mais  gostava da cidade. Andava muito a pé por lá. Lembro-me hoje dos comes, dos bebes, do que se passava, de algumas manifestações, dos cafés, de algumas pessoas com as quais perdi o contacto…

Lá para Novembro disseram-me que o que me tinha levado a Santiago já não ia acontecer. Disse várias asneiras em português e em castelhano e voltei para casa.

O que eu pensava que tinha sido um azar tremendo, veio a revelar-se uma premonição..chamo de Santiago.

2002 e 2003 vieram a revelar-se anos em que a minha presença em Lisboa se tornaria indispensável. Felizmente andei por cá.  

2004 veio a revelar-se mais uma consequência da, digo agora, boa sorte do final de 2001. Mudei-me outra vez para o estrangeiro. Voltei em Maio de 2005. Voltei  diferente…melhor.

Após 2001 voltei apenas duas vezes a Santiago. Mas quero voltar lá.

Mas Santiago voltou. Desta vez só para mim. Em Julho de 2013.

No meio de arrumações em casa dos meus pais…separando coisas para doar, coisas para guardar, coisas que contam a minha história, a história da casa e deles, a nossa história, diz-me a D. Rosa, a senhora que anda cá por casa faz muito tempo…não com o tempo de me chamar menino…

Meio aflita porque pensava que eu já tinha limpo um Santiago que anda pela sala, preso à parede.

Conta-me ela que está lá um papel deixado pela minha mãe. Eu desconhecia…pego na estatueta, levanto-a e vejo um papel dobrado que se encontra por baixo. Abro-o e vejo o meu nome, já escrito com uma caligrafia muito tremida….eventualmente das últimas coisas que ela escreveu.

Quase 10 anos após o falecimento da minha mãe recebo mais um presente dela…

Amanhã faz 10 anos que ela morreu…tenho saudades.



João Paulo Marques
O tempo não pára, não pare você também.
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