Uma das mais conhecidas lendas é a dos Corvos de S. Vicente.
Está historicamente registado que o monge Vicente “sofreu suplício até à morte
em Valência” quando pregava o cristianismo. Os cristãos daquela cidade
espanhola quiseram pôr a salvo o corpo do mártir e fugiram pelo mar. A viagem
decorreu sem incidentes até chegarem a um promontório no Atlântico, altura em
que uma tempestade os arrastou até às assustadoras “junto a uma terra muito
bela com um grande promontório”.
Devido aos estragos da tempestade, o barco encalhou entre
Sagres e o Cabo de S. Vicente. Para fugir a embarcações piratas, os devotos
desembarcaram a sua preciosa relíquia. O comandante do navio prometera-lhe
continuar a viagem depois de passado o perigo dos corsários, mas nunca mais
apareceu, pelo que decidiram construir na falésia uma ermida e um mosteiro em
memória de S. Vicente.
Será possível imaginar, sem dificuldade, o pequeno barco a
percorrer toda a costa algarvia, as falésias douradas sucedendo-se a praias de
areais claros, até chegar ao imponente promontório de Sagres, logo seguido do
Cabo de São Vicente. Ainda hoje, muitos séculos volvidos, a natureza do lugar
mantém-se impoluta e cheia de encanto.
Continuando a lenda, o primeiro rei de Portugal D. Afonso
Henriques, soube de um “lugar santo” a Sul onde estariam relíquias sagradas.
Logo ordenou uma expedição, para as trazer para Lisboa, pois
nessa altura o Algarve era ainda terra de mouros e não pertencia ao reino de
Portugal.
Todavia, o tempo apagara os vestígios da primitiva ermida e
os cristãos que a construíram não se destrinçavam da população árabe.
Porém, o capitão do navio ao navegar junto da falésia foi
surpreendido por um bando corvos, e seguindo-os, o enviado do Rei encontrou o
esconderijo onde estava o sepulcro. Extraordinariamente as aves, mantiveram o
seu secular papel de guardiãs de S. Vicente, e nos mastros do navio seguiram
até Lisboa. Em honra desta lenda, os corvos figuram nas armas da capital.
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