A esquadra era pequena, abafada e caótica. Pilhas e pilhas de papéis encontravam-se pelas muitas secretarias que o exíguo espaço apresentava.
Três polícias geriam a esquadra: O famigerado Inspector Santos e os terríveis sub Mortágua e Raimundo. Encontravam-se os três sentados num canto da sala, junto a uma lareira. Todos com uma cara de absoluta tranquilidade ou distanciamento…nunca se sabia qual era o estado de espírito que eles apresentavam.
O Inspector Santos lança um desafio diferente à sua equipa. Hoje vamos fazer um novo tipo de missão. Vamos fazer uma rusga só com inquéritos. Montamos uma mesa lá e vamos chamando as pessoas por SMS. Eles vão vindo ..,
Os dois vice em uníssono: Muito bem. Vamos fazer isso mesmo. Não sujamos as botas, vamos bebendo chá, não incomodamos o pessoal…e só vem quem quer…muito ao estilo ultra democrático. Afinal, é esse que nos caracteriza. Que está no nosso DNA.
O Inpector Santos remata: Bem me parecia que iriam gostar. Vai ser uma rusga disruptiva. Afinal, é o que nós somos
Perguntam os dois vices (parece que estão sempre alinhados): E o que vamos “rusgar”?
O Inspector Santos responde prontamente: Isso vê-mos com a sargento Leitão. A ideia é não chatear muito os transeuntes e, claro, não nos dar muito trabalho. Que tal perguntar se são consumidores de chá? Se são…que tipo de chá consomem.
A dupla: Brilhante Inspector Santos. Mais uma vez, brilhante. Podemos perguntar se ao beberem entornam o chá, se usam açúcar ou adoçante e comem biscoitos ou bolinhos. Algo que não dê chatice, não leve a lado nenhum...afinal, o nosso DNA.
O Inspector Santos: Brilhante minha dupla. Se percebermos que estão cheios de canela ou açúcar…devem ser suspeitos. Seguem logo para a mesa 2…para serem interrogados de forma mais dura. Claro, nessa missão estará a Sargento Leitão. Ela é sempre inconsequentemente implacável
Passe esta paródia sobre rusgas…lembro-me que nos anos 80 vivíamos com rusgas regulares. Eu morava nos Olivais Sul. Um bairro que na mesma rua misturava classes sociais. Mas os problemas eram causados transversalmente por todas as classes. Ricos e pobres faziam disparates.
Eu que não fazia disparates que chocassem a sociedade, cheguei a ser “rusgado”.
Não consigo visualizar rusgas sem aparato, sem serem agressivas à vista de terceiros. Sem haverem muitos que nada devem temer... Bastam poucos para fazerem uma big shit
Se fossemos um estado autocrático, as rusgas nunca seriam notícia.
Sobretudo, um bom Natal a todos. A todos que o comemoram, a todos que não o comemoram e aos que não gostam dele.
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