quarta-feira, 23 de julho de 2014

Lisboa em texto e imagens - #14

Rio Tejo

Oh! Tejo que cortais Portugal em dois
Que vindes da Espanha e chegais a Lisboa
Quisera eu ser tão grande como vós sois
Ou ter força para vos navegar de canoa

Um dia inundastes Lisboa, esta capital
Trazendo água da Espanha e do interior
Bem antes da construção da Ponte Salazar
A primeira que neste rio veio a se fazer


Mais uma grande ponte foi feita também
Que veio ligar Lisboa à região Sacavém
Onde é um local de assombrosa beleza

Tenho em minha vida um grande desejo
De um dia poder navegar sobre o Tejo
Seria dia de muita alegria, com certeza.

Jmd/Maringá

Fonte: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=139551#ixzz38He9VoKh


O Tejo inspira aqueles que por lá andam, que por lá andaram e querem voltar e aqueles que por ele querem navegar e sonhar

terça-feira, 22 de julho de 2014

Lisboa em palavras e imagens - 13


Trazias Lisboa
 
Trazias de Lisboa o que em Lisboa
é um apelo do mar: um mais além.
Trazias Índias e naufrágios. Fado e Madragoa.
E o cheiro a sul que só Lisboa tem.
Trazias de Lisboa a velha nau
que nos fez e desfez (em Lisboa por fazer).
Trazias a saudade e o escravo Jau
pedindo por Camões (em Lisboa a morrer).
Trazias de Lisboa a nossa vida
parada no Rossio: nau partida
em Lisboa a partir (Ó glória vã
não mais não mais que uma bandeira rota).
Trazias de Lisboa uma gaivota.
E era manhã.
 
de Manuel Alegre


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Lisboa em palavras e imagens - 12

Lisboa encanta muitos. Pena que alguns alfacinhas não valorizem o que Lisboa lhes dá de borla...a vista, o lisbon blue, o mar, o rio...e, para alguns, o sobe e desce, as diversas perspectivas presectivas ...

Muitas histórias se contam sobre a fundação de Lisboa...aqui vai uma que mistura lendas e sonhos.

Postado no Fo'rum Portugues pela Lissabona

Há muito, muito tempo atrás, existiu um reino conhecido pelo nome de Ofiusa. Esta terra localizava-se em um lugar distante, próximo a um grande mar oceano pouco conhecido. Ofiusa, segundo dizem, significa Terra de Serpentes. Este reino era governado por uma rainha, meio mulher, meio serpente. Contam que tinha um olhar feiticeiro e voz meiga, jeito de menina com incrível poder de sedução.
A rainha tinha o hábito de subir ao alto de um monte e gritar ao vento, para depois ouvir sua própria voz no eco:

Este é o meu reino! Só eu governo aqui, mais ninguém! Nenhum ser humano se atreverá a por aqui os pés: ai de quem ousar, pois, as minhas serpentes, não o deixarão respirar um minuto sequer!

Por muito tempo quase ninguém se atreveu realmente a entrar no reino da rainha.
Acreditava-se que esta costa era amaldiçoada pelos deuses e também pelos homens. E os poucos que se arriscavam eram seduzidos pela rainha e nunca mais retornavam.
Porém, um dia, vindo de muito longe, um herói chamado Ulisses, aportou na terra das serpentes. A rainha apaixonou-se imediatamente, e fez de tudo para impedi-lo de ir embora. Ulisses, muito habilmente, fingiu deixar-se levar pelos encantos da rainha, até que seus companheiros descansassem e pudessem novamente zarpar.
Como ficou deslumbrado com as belezas naturais que viu, subiu a um monte, e assim como fazia a rainha das Serpentes, gritou ao vento:

Aqui edificarei a cidade mais bela do Universo, e dar-lhe-ei o meu próprio nome. Será Ulisséia, capital do Mundo!

Ulisses, no entanto, acabou por ir embora, assim que seus barcos estavam abastecidos e os homens descansados. Fugiu da rainha que correu atrás dele desesperada. Dizem que seus braços serpenteando atrás do herói acabaram por formar sete colinas rumando em direção ao mar.
Ulisses foi-se, mas a lenda ficou.
A História, porém, é menos romântica ou mitológica e afirma que as coisas foram um pouco diferentes.
Alguns ainda tentam justificar a possibilidade de a lenda ter um fundo de verdade tentando associar o nome da cidade a possíveis corruptelas do nome de Ulisses, que aliás, em grego seria Odisseu. Ulisséia da lenda também teria se chamado Ulissipo, ou Olissipo. Os romanos chamavam-na Olisipo Felicitas Júlia. Os mouros de Lissabona. Mas os alfacinhas de hoje chamam mesmo de Lisboa.
A História afirma que Lisboa teria sido fundada pelos fenícios por volta de uns 3200 anos atrás, tornando-se um porto de escala para os povos mediterrânicos que comercializavam com os do norte da Europa. Os fenícios a teriam chamado de Alis Hubbo, que quer dizer enseada amena. Localizava-se a cidade desde a colina onde hoje encontra-se o Castelo de São Jorge até junto ao rio que era chamado de Daghi ou Taghi, que significa boa pesca.
Não só os fenícios passaram por aqui, também os Gregos (quem sabe Ulisses?) e Cartagineses.
Foi ocupada pelos romanos, com a ajuda dos habitantes locais, tendo sido acrescentado ao nome Olissipo mais duas palavrinhas, passando a chamar-se Olisipo Felicitas Júlia. Seus cidadãos ganharam a cidadania romana pelo apoio dado aos romanos quando da ocupação da Lusitânia. Não era cidade de grande importância então. Além de tornarem-se cidadãos romanos também não pagavam impostos. Tinham motivos para serem felizes. Passa a cidade a ser parte da província romana chamada Lusitânia, cuja capital era na atual cidade de Mérida (Eméritas Augusta), na Espanha.
No declínio do Império Romano, Olisipo era uma das primeiras cidades a abraçarem uma nova fé, conhecida então como cristianismo. Sofreu invasões de Alanos e Vândalos, fez parte do reino dos Suevos e acabou sendo tomada pelos Visigodos de Toledo (Espanha).
Mas em 719 Olissipo foi tomada pelos mouros, que chamavam-na de Lissabona, ou Al Lixbuna. Em 1147 Lissabona deixa de ser Lissabona. D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal expulsa os mouros e ocupa a cidade. Mas não é ainda que Lisboa passa a ser capital. Somente em 1255 torna-se capital do Reino, devido a sua localização estratégica.

E a História segue adiante... muitos séculos mais. E depois de tantos povos diferentes, tanta gente, estou eu aqui, olhando o Taghi da janela e pensando em Ulisses fugindo da rainha de Ofiusa, e ela desesperada atrás dele, formando as colinas que vejo hoje no horizonte.

Copypast de http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=595465

domingo, 20 de julho de 2014

Lisboa em palavras e imagens - 12


No Castelo de São Jorge

 

Pedi à sentinela para entrar.
Eu ia um pouco à toa, sem saber
Se era fácil poder justificar
O meu desejo de espreitar o dia
E ver nascer o Sol desse Castelo
Que domina Lisboa no mais belo
E surpreendente quadro de beleza!
Lisboa, a mais gentil, a portuguesa
E nobre capital de um povo grande
No sofrimento e na resignação,
Estava ainda preguiçosa e lenta
No acordar dessa manhã de Outono
Que eu vou tentar fixar nesta canção.

de António Botto 

sábado, 19 de julho de 2014

Lisboa em palavras e imagens - 11

Pelo Tejo Vai-se para o Mundo

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América

E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XX"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Tema(s): Natureza  Portugal  Ler outros poemas de Alberto Caeiro

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Lisboa em palavras e imagens - 10

Poema da Memória

Havia no meu tempo um rio chamado Tejo
 que se estendia ao Sol na linha do horizonte.
 Ia de ponta a ponta, e aos seus olhos parecia
 exactamente um espelho
 porque, do que sabia,
 só um espelho com isso se parecia.

 De joelhos no banco, o busto inteiriçado,
 só tinha olhos para o rio distante,
 os olhos do animal embalsamado
 mas vivo
 na vítrea fixidez dos olhos penetrantes.
 Diria o rio que havia no seu tempo

 um recorte quadrado, ao longe, na linha do horizonte,
 onde dois grandes olhos,
 grandes e ávidos, fixos e pasmados,
 o fitavam sem tréguas nem cansaço.
 Eram dois olhos grandes,
 olhos de bicho atento
 que espera apenas por amor de esperar.

 E por que não galgar sobre os telhados,
 os telhados vermelhos
 das casas baixas com varandas verdes
 e nas varandas verdes, sardinheiras?
 Ai se fosse o da história que voava
 com asas grandes, grandes, flutuantes,
 e poisava onde bem lhe apetecia,
 e espreitava pelos vidros das janelas
 das casas baixas com varandas verdes!
 Ai que bom seria!
 Espreitar não, que é feio,
 mas ir até ao longe e tocar nele,
 e nele ver os seus olhos repetidos,
 grandes e húmidos, vorazes e inocentes.
 Como seria bom!

 Descaem-se-me as pálpebras e, com isso,
 (tão simples isso)
 não há olhos, nem rio, nem varandas, nem nada.


António Gedeão, in 'Poemas Póstumos'

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Lisboa em palavras e imagens - 9


Brandas águas do Tejo que, passando

Por estes verdes campos que regais,

Plantas, ervas, e flores, e animais,

Pastores, ninfas, ides alegrando;

 

Não sei (ah, doces águas!), não sei quando

Vos tornarei a ver; que mágoas tais,

Vendo como vos deixo, me causais

Que de tornar já vou desconfiando.

 

Ordenou o destino, desejoso

De converter meus gostos em pesares,

Partida que me vai custando tanto.

 

Saudoso de vós, dele queixoso,

Encherei de suspiros outros ares,

Turbarei outras águas com meu pranto.