terça-feira, 24 de dezembro de 2024

A Grande Rusga


A grande  rusga


A esquadra era pequena, abafada e caótica. Pilhas e pilhas  de papéis encontravam-se pelas secretárias que o exíguo espaço apresentava. 

Três polícias geriam a esquadra: O famigerado Inspector Santos e os terríveis sub Mortágua e Raimundo. Encontravam-se os três sentados num canto da sala, junto a uma lareira. Todos com uma cara de absoluta tranquilidade ou distanciamento…nunca se sabia qual era o estado de espírito que eles apresentavam.

O Inspector Santos lança um desafio diferente à sua equipa. Hoje vamos fazer um novo tipo de missão. Vamos fazer uma rusga só com inquéritos. Montamos uma mesa lá e vamos chamando as pessoas por SMS. Elas vão vindo ...

Os dois vice em uníssono: Muito bem. Vamos fazer isso mesmo. Não sujamos as botas, vamos bebendo chá, não incomodamos o pessoal…e só vem quem quer…muito ao estilo ultra democrático. Afinal, é esse que nos caracteriza. Que está no nosso DNA.

O Inpector Santos remata: Bem me parecia que iriam gostar. Vai ser uma rusga disruptiva. Afinal, é o que nós somos

Perguntam os dois vices (parece que estão sempre alinhados): E o que vamos “rusgar”?

O Inspector Santos responde prontamente: Isso vemos com a sargento Leitão. A ideia é não chatear muito os transeuntes e, claro, não nos dar muito trabalho. Que tal perguntar se são consumidores de chá? Se são…que tipo de chá consomem.

A dupla: Brilhante Inspector Santos. Mais uma vez, brilhante. Podemos perguntar se ao beberem entornam o chá, se usam açúcar ou adoçante e comem biscoitos ou bolinhos. Algo que não dê chatice, não leve a lado nenhum...afinal, o nosso DNA.

O Inspector Santos: Brilhante minha dupla. Se percebermos que estão cheios de canela ou açúcar…devem ser suspeitos. Seguem logo para a mesa 2…para serem interrogados de forma mais dura. Claro, nessa missão estará a Sargento Leitão. Ela é sempre inconsequentemente implacável.

Passe esta paródia sobre rusgas…lembro-me que nos anos 80 vivíamos com rusgas regulares. Eu morava nos Olivais Sul. Um bairro que na mesma rua misturava classes sociais. Mas os problemas eram causados transversalmente por todas as classes. Ricos e pobres faziam disparates.

Eu que não fazia disparates que chocassem a sociedade, cheguei a ser “rusgado”.

Não consigo visualizar rusgas sem aparato, sem serem agressivas à vista de terceiros. Sem haverem muitos que nada devem temer... Bastam poucos para fazerem uma big shit.

Se fossemos um estado autocrático, as rusgas nunca seriam notícia.

Sobretudo, um bom Natal a todos. A todos que o comemoram, a todos que não o comemoram e aos que não gostam dele.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Vespa JPM e o Natal

Vespa JPM e o Natal

 

O Natal que não se embrulha

O Natal que não se embrulha - JPM 

 Num vilarejo lá para os alentejos, havia um relojoeiro que parecia fazer magia com a sua arte e, sobretudo, com a capacidade de cativar as pessoas com as suas histórias. 

O seu nome era Manuel. As suas histórias agradavam tanto a graúdos como a pequenos, a clientes e a amigos. O tempo parecia não passar naquela relojoaria — talvez coisas de povoados pequenos.

Lá pela quadra de Natal, apareceu uma moça com cara de menina. Chamava-se Pepita. Era estranha no vilarejo. Levava consigo um relógio de bolso. Este parecia antigo, com sinais evidentes de uso: estava riscado e com os ponteiros parados.

Pepita, com alguma ansiedade, explicou ao Sr. Manuel que o relógio era do seu pai, falecido precocemente. Queria arranjá-lo para o oferecer ao seu filho, ainda bebé. Queria dar vida ao relógio, mas também dar vida assim aos seus que já não podiam estar com ela naquele Natal.

O Sr. Manuel ouviu a história de Pepita (quase diria cativado por ela, mas ele cativava-se pelas pessoas) e pôs-se a arranjar o relógio. Durante o tempo em que consertava, o Sr. Manuel contava as suas histórias.

Enquanto o ouvia, emocionada pelas histórias, reluziam os seus olhos grandes, bonitos, castanhos e ansiosos. Pepita parecia estar a viver uma mistura de bons sentimentos. As memórias do seu pai misturavam-se com a habilidade do Sr Manuel contar histórias

Lá ia dizendo o Sr. Manuel:

“Sabe, menina, o Natal não é só feito do que compramos para oferecer nestes dias, do que pode ser embrulhado. O Natal é muito mais do que isso. O Natal é, sobretudo, o tempo que dedicamos aos outros. Não temos de ser caridosos apenas no Natal.”

Pepita continuava a ouvir atentamente o Sr. Manuel. Quando este finalmente terminou, entregou-lhe de volta o relógio. Parecia que nunca tinha deixado de funcionar, estava apenas esquecido de trabalhar.

Quando Pepita ia a sair, o Sr. Manuel disse:

“Sabe, menina, o Natal não está neste simples relógio. Talvez ele a lembre do que o Natal realmente significa.”

Pepita, após ter o relógio arranjado, passou a pôr em prática o que sempre tinha pensado: espalhar o espírito natalício durante o ano todo.

Desde esse dia, Pepita passou a visitar o Sr. Manuel todos os anos. Sempre que podia, passava pela sua relojoaria e ficava à conversa com ele.

Pepita percebeu que o tempo é o maior presente que alguém pode usufruir e oferecer. Com o espírito certo, qualquer dia pode ser Natal.

Aos meus pais, Pepita e Manuel.


Fotografia do meu amigo Miguel Valle de Figueiredo.

A fotografia foi feita no Hospital Miguel Bombarda a partir de um cartaz de (Bailarino) Valentim de Barros, uma história de vida que não é exactamente um conto de Natal, mas que serve para nos lembrar da humanidade que tantas vezes anda desaparecida.

Um pouco mais sobre Valentim aqui

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Não espere pelo sapatinho…faça o seu

202...5

“A primeira regra é manter o espírito tranquilo. A segunda é enfrentar as coisas de                                         frente e tomá-las pelo que realmente são.” Marco Aurélio

2025 está já ai; como já esteve 2024, 2023, 2022,,,e por ai em diante

Ao entrarmos em 2025 queremos: estar mais leves física e metaforicamente. Também é importante focarmo-nos no que realente importa

O princípio universal de "faça com que os seus projectos acontecem e não dependa dos outros" está profundamente enraizado na gestão proactiva que deve ter e na sua liderança.

Num contexto de gestão e pessoal (afinal a nossa vida pessoal também carece de gestão), esta forma de pensar, não lhe chamo de filosofia porque poderia ficar uma escrita mais densa, enfatiza a importância da iniciativa, da responsabilidade e da resiliência.


Aqui está como isso pode (talvez) ser aplicado:

1. Responsabilidade

Assumir total responsabilidade por um projecto garante que seja você, o próprio, a força motriz para o sucesso. Como gestor que é, trata-se de definir metas claras, delinear passos possíveis e manter a responsabilidade e foco pelos resultados, mesmo diante de desafios, surpresas e contratempos.


2. Autossuficiência

Embora a colaboração seja essencial no ambiente de trabalho moderno (não sabemos fazer tudo e não temos tempo para tudo), uma abordagem autossuficiente reduz atrasos causados pelos atrasos de informações ou aprovações.

Isso envolve identificar áreas onde pode avançar de forma independente e equipar-se com as habilidades e os recursos necessários para agir ou reagir.


3. Tomada de Decisão

Ser decisivo e incisivo, reunir as informações necessárias e confiar no próprio julgamento, há quem chame instinto, e bom senso pode evitar estagnação e manter o projecto em andamento.

Evite “gargalos” de terreiros no processo de decisão.

Decidir amanhã o que se pode decidir hoje…pode levar a que se perca a oportunidade


4. Autonomia das Equipas

Lidere as equipas pelo exemplo. Assim, com o seu exemplo, as suas equipas tendem a plasmar a sua atitude.

Incentive os membros da equipa a assumir a responsabilidade pelas suas tarefas e decisões. Promove assim uma cultura de independência e responsabilidade.


5. Gestão de Risco

Uma abordagem proactiva significa antecipar possíveis problemas e mitigá-los precocemente. Em vez de esperar por soluções externas, desenvolva planos de contingência para manter o projecto no caminho certo.

O maior interessado em resolver o seu problema é você próprio.


6. Criatividade e Recurso

Gestores com autonomia procuram ferramentas e soluções inovadoras para superar obstáculos.

Aproveitar os recursos disponíveis de forma eficaz é a marca registrada de uma gestão de projetos bem-sucedida.

Os gestores que possuem essa mentalidade apresentam uma maior capacidade de sucesso. Sucesso que transpirará para as suas equipas. Estas ficam mais confiantes.


Se pretende ter uma abordagem mais prática para 2025…eis três possíveis passos:

1. Faça o inventário de seu 2024:

Liste tudo. O que deu certo, o que não deu e o que está em andamento.

2. Catalogue-os:

o Exclua os projectos que não trazem valor

o Guarde os projectos que podem trazer valor no futuro.

o Aprimore os projectos que apresentam potencial.

o Amplie: os projetos que apresentam resultados sólidos, pois podem merecer mais investimento. O que já está a funcionar bem deve ser potencializado. O sucesso constrói confiança e abre portas para novas possibilidades, eventualmente disruptivas.

3. Elabore um plano de acção claro para 2025:

Defina metas específicas para os temas que consideram prioritários e datas-limite para avaliar essas metas.


The Style Council – Shout to the top , uma das melhores bandas de sempre

A Cor do Som - Alto Astral, uma das melhores bandas de sempre

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Vespa 50s Springboks

Vespa 50s powered by Springboks

 

Reflexão (histórica) sobre o papel da liderança

                                                       

Miguel de Vasconcellos no seu último voo livre - JPM Consultores 

                                                                     “Experiência é a professora de todas as coisas.”, Júlio César 


Miguel de Vasconcellos, secretário de Estado português durante o domínio filipino, ficou marcado pelo seu papel como executor de uma política centralizadora e alienada da nação portuguesa.

A sua gestão foi marcada por: 

centralização excessiva de poder,

falta de alinhamento com stakeholders.

falta de alinhamento cultural e estratégico com a cultura e os valores do povo,

subestimar o impacto da reputação na liderança.


Os erros que Miguel de Vasconcellos teve na sua liderança e o fim a que teve direito, a  Defenestração ou seja, o acto de lançar alguém pela janela – originário de fenestra, fenêtre, uma prática muito em voga nessa altura por toda a  Europa.  Há por ai um povo que retomou esta prática. Ou janelas ou chá. 

Há também por ai uns poucos lusos que usam as nossas janelas para as suas próprias brincadeiras. 

Mas vamos à gestão…onde eu me sinto mais confortável.

1. Centralização excessiva:

Assim como Vasconcellos consolidava o poder nas suas mãos, muitos gestores insistem em tomar todas as decisões. Não delegam. Sufocam a criatividade. Afogam a autonomia das equipas.

A gestão moderna ensina que descentralizar e empoderar os líderes intermediários(e não só)  é crucial para o sucesso.

 

2. Falta de alinhamento com os stakeholders:

A política de Vasconcellos era vista como servil aos interesses da coroa espanhola e distante das necessidades e aspirações dos portugueses. 

Da mesma forma, um gestor que ignora as necessidades dos seus clientes, parceiros ou colaboradores internos corre o risco de alienar esses grupos, comprometendo os resultados organizacionais, comprometendo a vida da organização.


3.  Falta de alinhamento cultural e estratégico com a cultura e os valores do povo

Vasconcellos é um exemplo clássico do que ocorre quando a liderança está desalinhada com a cultura e os valores do grupo que representa. 

Ele era visto como estrangeiro na mentalidade e práticas, o que amplificou o ressentimento popular.

Os gestores que não respeitam ou compreendem a cultura de uma organização podem vir a esperar resistência. Esta pode começar por ser passiva… mas é de esperar, caso tudo se mantenha, tornar-se acti

Assim como Vasconcellos representava a imposição de valores estrangeiros, líderes que importam soluções de forma arbitrária, sem adaptação ao contexto local, vão encontrar resistência.


4. Subestimar o impacto da reputação na liderança.


Vasconcellos é uma prova de que uma má reputação pode levar à queda. Vasconcellos acabou por se tornar num enorme  símbolo do descontentamento que levou à Restauração da Independência. 

Na gestão moderna a imagem da liderança reflecte-se  directamente na marca e na retenção de talentos. Líderes que acumulam rejeição por más práticas, falta de ética  ou empatia podem precipitar crises organizacionais, como greves, boicotes ou até a perda de mercado.


Esta minha analogia pretende ser uma provocação para a reflexão  sobre o papel da liderança no equilíbrio de poder e a importância de ouvir todos, mas mesmo todos, os envolvidos em qualquer processo organizacional.


Plagiando sem dó  Luís Fernando Veríssimo

“Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 17º andar.

        – Querida…

        – Mmmm?

        – Há uma coisa que preciso lhe dizer…

        – Fala, amor!

        – Sou um defenestrador.

        E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama:

        – Estou pronta para experimentar tudo com você!”


Tequilla – Me vuelvo loco , banda rock espanhola. Se ouvires esta música e ela não te trouxer à vida... há algo de errado contigo... (frase meio kármica…apenas se pretende tirar da apatia alguns e da resmunguice outros)